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domingo, 6 de maio de 2012

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: um transplante de vida

Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes, atualmente no Brasil há mais de 62 mil pessoas à espera de um órgão ou tecido. Informações adequadas a respeito do assunto podem fazer a fila andar

POR LILIAN HIRATA


ILUSTRAÇÃO: MARCELO1. É permitido doar órgãos e tecidos ainda em vida?
Sim. Mas o processo é limitado a algumas partes do corpo e desde que a retirada total ou parcial não impeça o funcionamento do organismo do doador. Entre os órgãos permitidos estão rins, parte do fígado, do pâncreas e do pulmão. Entre os tecidos, parte da medula óssea e da pele. Qualquer pessoa, maior de 21 anos, pode doar seus órgãos, com a condição de não ser portadora de doenças transmissíveis (como Aids e hepatite B), de infecções graves e de câncer generalizado.
2. Pode-se escolher o receptor?
Depende. Se a doação for em vida, o indivíduo conta com essa opção, dentro das especificações determinadas por lei - por exemplo, ela pode ser dirigida ao cônjuge e parentes até quarto grau. Para doar a outras pessoas sem nenhum parentesco se faz necessária uma autorização judicial. Após a morte, no entanto, a escolha fica a critério de uma entidade responsável - a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, administrada pelo governo através do Sistema Único de Saúde (SUS) -, que indicará um receptor da lista de espera. Esta é única e abrange todo o país. Os nomes dos pacientes que necessitam ser transplantados são enviados por seus respectivos médicos responsáveis, via hospital. As informações ficam armazenadas em um banco de dados a fim de agilizar o processo de identificação. A decisão na hora da doação respeita a ordem de espera, mas leva em conta, necessariamente, a compatibilidade entre doador e receptor. Isso significa que o 'número um' da fila pode não ser o próximo a receber o órgão.
3. Como se avalia a compatibilidade?
O primeiro passo é analisar o tipo sangüíneo (fatores ABO e Rh) de doador e receptor. É importante ainda que ambos submetam-se ao exame que identifica a semelhança no sistema genético, o HLA (Antígenos Leucocitários Humanos - cuja sigla vem da abreviação do termo em inglês), que verifica se os tecidos são imunologicamente adequados, diminuindo assim o risco de rejeição pelo organismo. Tudo isso sob acompanhamento médico. O receptor ainda deve estar em boas condições de saúde para garantir o sucesso da cirurgia.
4. Existem riscos no processo de doação em vida?
Eles são os mesmos atribuídos a qualquer cirurgia. O doador é submetido aos procedimentos pré e pós-operatórios rotineiros correspondentes ao tipo de intervenção sofrida e poderá retomar sua rotina normal após alguns dias. Já a pessoa que recebeu o órgão ou tecido deve tomar cuidado para evitar infecção e rejeição pelo organismo. Hoje já existem medicamentos muito eficientes, que vêm diminuindo consideravelmente os problemas. Esse remédios devem ser utilizados pelo transplantado por toda a vida.
5. De que forma ocorre a doação de órgãos após a morte?
Ela só se efetiva, obrigatoriamente, com a autorização da família e depois de ter sido constatada a morte encefálica - ou seja, após a interrupção irreversível das atividades cerebrais, tanto do córtex cerebral quanto do tronco encefálico. Ela é diferente da morte cerebral, na qual somente o córtex cerebral deixa de funcionar, e do coma, estado caracterizado pela perda de consciência, porém com presença de atividade cerebral. Antes da retirada dos órgãos, no entanto, a morte encefálica deve ser comprovada por dois exames clínicos e um laboratorial. Os procedimentos são estipulados pelo Conselho Federal de Medicina (resolução n° 1.480/97) e devem ser realizados por dois médicos, não pertencentes à equipe de remoção e transplante, em intervalos de no mínimo seis horas. Se os procedimentos forem realizados adequadamente, um único doador pode melhorar a vida de vários pacientes. Os órgãos mais comuns para doação são coração, pulmão, rins, fígado e pâncreas. Já os tecidos englobam medula óssea, córnea, pele, valvas cardíacas e ossos.
6. O corpo do doador fica deformado?
Essa é uma preocupação muito comum às famílias. Mas não há o que temer. A Lei 9.434/97, que regulamenta a remoção de órgãos, tecidos e outras partes para transplantes, exige a recomposição do corpo do doador após a retirada. Isso, geralmente, é feito pela mesma equipe médica que realiza a remoção.
7. Quais são os obstáculos que dificultam os transplantes?
Os problemas envolvem todo o processo. Começam com a falta de notificação das mortes encefálicas às Centrais de Notificação, Captação e Distribuição. Muitos hospitais, inclusive, não dispõem de comissões intra-hospitalares ou equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante, nem de estrutura física para manter o paciente nas condições necessárias para a conservação de seus órgãos. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do ano de 2004, 15% dos potenciais doadores tiveram paradas cardíacas, o que levou à degeneração de seus órgãos. Outra questão é a do transporte, principalmente longe dos grandes centros urbanos. Sabe-se que 27% dos órgãos doados foram descartados pela falta de transporte adequado em sua remoção até o receptor. E mais: índices recentes apontam que a recusa familiar atinge cerca de 25%. Ela acontece, geralmente, em casos de morte repentina, como em acidentes. Os familiares não têm certeza da vontade do ente perdido em doar seus órgãos e preferem não fazê-lo. Por isso, é fundamental comunicar à família o desejo de doar.
 
Maria Cristina Ribeiro de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e médica-assistente da Unidade de Transplante Renal do Hospital das Clínicas, em São Paulo
   


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