Segundo
dados do Sistema Nacional de Transplantes, atualmente no Brasil há mais
de 62 mil pessoas à espera de um órgão ou tecido. Informações adequadas
a respeito do assunto podem fazer a fila andar
POR LILIAN HIRATA
1.
É permitido doar órgãos e tecidos ainda em vida?
Sim. Mas o processo é limitado a algumas partes do corpo
e desde que a retirada total ou parcial não impeça o funcionamento do
organismo do doador. Entre os órgãos permitidos estão rins, parte do fígado,
do pâncreas e do pulmão. Entre os tecidos, parte da medula óssea e da
pele. Qualquer pessoa, maior de 21 anos, pode doar seus órgãos, com a
condição de não ser portadora de doenças transmissíveis (como Aids e hepatite
B), de infecções graves e de câncer generalizado.
2. Pode-se
escolher o receptor?
Depende. Se a doação for em vida, o indivíduo conta com essa opção, dentro
das especificações determinadas por lei - por exemplo, ela pode ser dirigida
ao cônjuge e parentes até quarto grau. Para doar a outras pessoas sem
nenhum parentesco se faz necessária uma autorização judicial. Após a morte,
no entanto, a escolha fica a critério de uma entidade responsável - a
Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, administrada
pelo governo através do Sistema Único de Saúde (SUS) -, que indicará um
receptor da lista de espera. Esta é única e abrange todo o país. Os nomes
dos pacientes que necessitam ser transplantados são enviados por seus
respectivos médicos responsáveis, via hospital. As informações ficam armazenadas
em um banco de dados a fim de agilizar o processo de identificação. A
decisão na hora da doação respeita a ordem de espera, mas leva em conta,
necessariamente, a compatibilidade entre doador e receptor. Isso significa
que o 'número um' da fila pode não ser o próximo a receber o órgão.
3. Como
se avalia a compatibilidade?
O primeiro passo é analisar o tipo sangüíneo (fatores ABO e Rh) de doador
e receptor. É importante ainda que ambos submetam-se ao exame que identifica
a semelhança no sistema genético, o HLA (Antígenos Leucocitários Humanos
- cuja sigla vem da abreviação do termo em inglês), que verifica se os
tecidos são imunologicamente adequados, diminuindo assim o risco de rejeição
pelo organismo. Tudo isso sob acompanhamento médico. O receptor ainda
deve estar em boas condições de saúde para garantir o sucesso da cirurgia.
4.
Existem riscos no processo de doação em vida?
Eles são os mesmos atribuídos a qualquer cirurgia. O doador é submetido
aos procedimentos pré e pós-operatórios rotineiros correspondentes ao
tipo de intervenção sofrida e poderá retomar sua rotina normal após alguns
dias. Já a pessoa que recebeu o órgão ou tecido deve tomar cuidado para
evitar infecção e rejeição pelo organismo. Hoje já existem medicamentos
muito eficientes, que vêm diminuindo consideravelmente os problemas. Esse
remédios devem ser utilizados pelo transplantado por toda a vida.
5.
De que forma ocorre a doação de órgãos após a morte?
Ela só se efetiva, obrigatoriamente, com a autorização da família e depois
de ter sido constatada a morte encefálica - ou seja, após a interrupção
irreversível das atividades cerebrais, tanto do córtex cerebral quanto
do tronco encefálico. Ela é diferente da morte cerebral, na qual somente
o córtex cerebral deixa de funcionar, e do coma, estado caracterizado
pela perda de consciência, porém com presença de atividade cerebral. Antes
da retirada dos órgãos, no entanto, a morte encefálica deve ser comprovada
por dois exames clínicos e um laboratorial. Os procedimentos são estipulados
pelo Conselho Federal de Medicina (resolução n° 1.480/97) e devem ser
realizados por dois médicos, não pertencentes à equipe de remoção e transplante,
em intervalos de no mínimo seis horas. Se os procedimentos forem realizados
adequadamente, um único doador pode melhorar a vida de vários pacientes.
Os órgãos mais comuns para doação são coração, pulmão, rins, fígado e
pâncreas. Já os tecidos englobam medula óssea, córnea, pele, valvas cardíacas
e ossos.
6.
O corpo do doador fica deformado?
Essa é uma preocupação muito comum às famílias. Mas não há o que temer.
A Lei 9.434/97, que regulamenta a remoção de órgãos, tecidos e outras
partes para transplantes, exige a recomposição do corpo do doador após
a retirada. Isso, geralmente, é feito pela mesma equipe médica que realiza
a remoção.
7. Quais
são os obstáculos que dificultam os transplantes?
Os problemas envolvem todo o processo. Começam com a falta de notificação
das mortes encefálicas às Centrais de Notificação, Captação e Distribuição.
Muitos hospitais, inclusive, não dispõem de comissões intra-hospitalares
ou equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante, nem de estrutura
física para manter o paciente nas condições necessárias para a conservação
de seus órgãos. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT),
do ano de 2004, 15% dos potenciais doadores tiveram paradas cardíacas,
o que levou à degeneração de seus órgãos. Outra questão é a do transporte,
principalmente longe dos grandes centros urbanos. Sabe-se que 27% dos
órgãos doados foram descartados pela falta de transporte adequado em sua
remoção até o receptor. E mais: índices recentes apontam que a recusa
familiar atinge cerca de 25%. Ela acontece, geralmente, em casos de morte
repentina, como em acidentes. Os familiares não têm certeza da vontade
do ente perdido em doar seus órgãos e preferem não fazê-lo. Por isso,
é fundamental comunicar à família o desejo de doar.
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